Cannabis medicinal no manejo da síndrome pós-COVID-19

Publicado em 17/11/21 | Atualizado em 17/11/21 Leitura: 8 minutos

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Fadiga, insônia, dores de cabeça, ansiedade, depressão e dificuldades na memória, foco e atenção são alguns dos sintomas comumente relatados pelos pacientes após infecção por COVID-19. Esse quadro é decorrente de uma resposta imunológica exagerada do organismo ao vírus, o que leva ao desequilíbrio na produção das citocinas inflamatórias – proteínas do sistema imunológico.

Alguns estudos têm apontado a segurança e eficácia do canabidiol (CBD) em quadros inflamatórios graves. Mas, é importante lembrar que no caso da COVID-19, ainda não temos evidências científicas que comprovem o efeito antiviral desse fitocanabinoide no combate específico à doença, seja para proteger contra a infecção, seja para tratá-la.

Por outro lado, em relação ao tratamento da síndrome pós-COVID, os fitocanabinoides vêm demonstrando resultados satisfatórios no controle dos sintomas que surgem na fase posterior à doença. É disso que falaremos neste conteúdo, trazendo estudos que apontam essa eficácia, com destaque para uma pesquisa brasileira que está em curso.

 

Cannabis medicinal e síndrome pós-COVID-19

Com a descoberta científica do Sistema Endocanabinoide nos anos 1990, surgiram vários estudos validando a ação anti-inflamatória dos fitocanabinoides – em especial o CBD – em quadros virais. 

Mas, apesar de estudos pré-clínicos demonstrarem efeitos terapêuticos dos fitocanabinoides CBD (canabidiol), THC (tetra-hidrocanabinol) e CBG (canabigerol) contra diversas doenças virais, não há, até o momento, evidências científicas que de fato, comprovem o efeito antiviral desses canabinoides no combate à Covid-19, seja para proteger contra essa infecção, seja para tratá-la.

 

>> Leia a revisão científica de Uwe Blesching sobre Cannabis medicinal e doenças do Coronavírus

 

A patogênese e as complicações clínicas relacionadas à doença envolvem principalmente uma complexa cascata imuno-inflamatória. Nesse sentido, a estratégia terapêutica na COVID-19 baseia-se na supressão da infecção e inflamação, bem como, na modulação imunológica.

O papel do Sistema Endocanabinoide é fundamental na modulação dessas respostas imuno inflamatórias, por isso, os canabinoides se tornam importantes aliados. Nessa terapêutica, destaca-se a ativação de receptores endocanabinoides tipo 2 (CB2) – receptor acoplado à proteína G, que medeia diversas atividades anti-inflamatórias e modula numerosas vias de sinalização.

O terpeno beta-cariofileno, comumente presente na planta Cannabis, é um agonista seletivo dos receptores CB2 e produz efeitos terapêuticos através da ativação do receptor CB2 e de outros receptores nucleares. É com base nessas propriedades farmacológicas e moleculares, e no seu potencial terapêutico como imunomodulador, antiinflamatório e antiviral, que o beta-cariofileno também se destaca nesse contexto.

O estudo recém-publicado no periódico científico Frontiers in Pharmacology ilustra essa perspectiva, sugerindo o beta-cariofileno como um candidato promissor no processo terapêutico e/ou profilático de manejo da tríade de infecção, imunidade e inflamação relacionadas à COVID-19.

 

>> Leia a pesquisa completa em: β-Caryophyllene, A Natural Dietary CB2 Receptor Selective Cannabinoid can be a Candidate to Target the Trinity of Infection, Immunity, and Inflammation in COVID-19.

 

Evidências científicas do canabidiol na síndrome pós-COVID-19

Alguns estudos internacionais já sugeriram que as propriedades anti-inflamatórias do canabidiol (CBD) podem ajudar no controle da “tempestade de citocinas pró-inflamatórias” que ocorre durante a infecção por COVID-19. 

O Brasil está ganhando destaque em uma pesquisa que está em desenvolvimento pela Faculdade de Medicina da USP, em parceria com a empresa canadense Verdemed, para avaliar o potencial do CBD também no manejo dos sintomas tardios que ocorrem após a infecção por COVID-19.

Segundo os pesquisadores, os sintomas da síndrome pós-COVID-19 podem persistir por mais de três meses, comprometendo consideravelmente a qualidade de vida dos pacientes. Os sintomas mais comuns incluem fadiga generalizada, astenia, fibromialgia, falta de ar, palpitações, dores no corpo, distúrbios de memória e distúrbios do sono – e são relatados por cerca de 20% dos pacientes, dois meses após o início da doença.

 

Como existem diversos estudos científicos que sinalizam respostas positivas dos derivados canabinoides no manejo desses sintomas, o estudo brasileiro que avalia o uso do CBD na síndrome pós-COVID-19 entra em sua terceira fase, realizando agora testes em seres humanos. A intenção é recrutar cerca de mil voluntários para o experimento, previsto para começar em outubro de 2021.

Os cientistas chamam atenção ainda para o potencial do CBD não só no combate ao cansaço físico, mas também, mental. Isso porque são comuns os quadros de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático atrelados às memórias recorrentes da doença, sobretudo nos pacientes que passaram muito tempo hospitalizados. Nesse âmbito, o CBD pode auxiliar na recuperação da qualidade de vida e bem-estar dessas pessoas.

Outros pressupostos sobre a utilidade da Cannabis medicinal na síndrome pós-COVID-19 direcionam pesquisas científicas que trazem resultados promissores. 

 

Um exemplo é este estudo publicado no periódico Drug Development Research, que também avalia a patogênese e as complicações da infecção a partir de uma complexa cascata imuno-inflamatória.

A pesquisa destaca a ativação dos receptores CB2 e o consequente processo de regulação das vias de sinalização, controlando mediadores imunoinflamatórios que incluem citocinas, quimiocinas, moléculas de adesão, prostanoides e eicosanoides. Além disso, o estudo também sugere o uso dos canabinoides como adjuvantes, atuando junto com outras drogas para maximizar efeitos sinérgicos e minimizar possíveis efeitos colaterais.

 

>> Leia o estudo completo em: CB2 receptor-selective agonists as candidates for targeting infection, inflammation, and immunity in SARS-CoV-2 infections.

 

Evidências científicas dos sintomas pós-COVID-19

Apesar de os principais sintomas da COVID-19 se manifestarem de forma aguda e de a maioria dos pacientes se recuperarem totalmente, é necessário que a comunidade médica se atente a essa fração significativa de pacientes que estão enfrentando a síndrome pós-COVID.

Enquanto a maioria das pesquisas científicas relacionadas aos sintomas da doença prioriza a análise de casos graves e com necessidade de hospitalização, este estudo longitudinal traz uma outra perspectiva, abrangendo um experimento com pacientes que inicialmente apresentaram nenhum ou poucos sintomas da infecção – isto é, que não foram hospitalizados.

O experimento reuniu 958 pacientes que testaram positivo para a COVID-19, os quais foram observados no período entre abril e dezembro de 2020 para a avaliação de sintomas de longo prazo e de anticorpos da doença. 

 

Foram evidenciados sintomas como anosmia, ageusia, fadiga e falta de ar, que persistiram sobretudo nos meses de abril – onde foram avaliados 442 pacientes – e julho, onde foram avaliados 353 pacientes. Eis os resultados:

  • 8,6% (38/442) dos pacientes apresentaram dispneia;
  • 12,4% (55/442) dos pacientes apresentaram anosmia;
  • 11,1% (49/442) dos pacientes apresentaram ageusia;
  • 9,7% (43/442) dos pacientes apresentaram fadiga.

Pelo menos um desses sintomas característicos esteve presente em 27,8% (123/442) dos pacientes após quatro meses da infecção e em 34,8% (123/353) dos pacientes após sete meses da infecção. 

Além disso, o estudo aponta que níveis mais baixos do anticorpo IgG e quadros de anosmia e diarreia durante a fase aguda da doença estão associados a um maior risco de desenvolvimento dos sintomas de longo prazo.

 

>> Veja aqui o estudo completo: Post-COVID syndrome in non-hospitalised patients with COVID-19: a longitudinal prospective cohort study.

 

À medida que cresce a população de pacientes se recuperando da doença, mais se faz necessário avançar nas pesquisas sobre a síndrome pós-COVID, tendo em vista o amplo espectro de manifestações e o forte impacto da na qualidade de vida dessas pessoas. 

Como vimos, as evidências sugerem a Cannabis medicinal como uma alternativa promissora nesse contexto, em especial o fitocanabinoide CBD, devido às suas propriedades imunomoduladoras e anti-inflamatórias.

Esses atributos terapêuticos, associados a efeitos colaterais brandos e ausência de efeitos psicotóxicos, fazem do CBD uma opção segura e útil no tratamento da síndrome pós-COVID-19. No entanto, é sempre importante ressaltar que uma prescrição assertiva demanda educação médica adequada na área.

 

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Referências

Augustin M, Schommers P, Stecher M, Dewald F, Gieselmann L, Gruell H, Horn C, Vanshylla K, Cristanziano VD, Osebold L, Roventa M, Riaz T, Tschernoster N, Altmueller J, Rose L, Salomon S, Priesner V, Luers JC, Albus C, Rosenkranz S, Gathof B, Fätkenheuer G, Hallek M, Klein F, Suárez I, Lehmann C. Post-COVID syndrome in non-hospitalised patients with COVID-19: a longitudinal prospective cohort study. Lancet Reg Health Eur. 2021.

Jha NK, Sharma C, Hashiesh HM, Arunachalam S, Meeran MN, Javed H, Patil CR, Goyal SN, Ojha S. β-Caryophyllene, A Natural Dietary CB2 Receptor Selective Cannabinoid can be a Candidate to Target the Trinity of Infection, Immunity, and Inflammation in COVID-19. Front Pharmacol. 2021.

Nagoor Meeran MF, Sharma C, Goyal SN, Kumar S, Ojha S. CB2 receptor-selective agonists as candidates for targeting infection, inflammation, and immunity in SARS-CoV-2 infections. Drug Dev Res. 2021.

 

Esse texto foi elaborado pelo time de experts da WeCann, baseado nas evidências científicas partilhadas nas referências e, amparado na ampla experiência prescritiva dos profissionais.

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